Por Jamile Serra Coutinho e Vinicius Oliveira
Na concepção de Vygotsky, o processo de aprendizagem humano é desenvolvido através da interação com o ambiente no qual ele está inserido. Trata-se de uma relação dialética, na qual o homem modifica o meio, e este o modifica. Para desenvolver a sua tese este pesquisador estabeleceu dois conceitos: zona de desenvolvimento real e zona de desenvolvimento proximal. Ao primeiro denomina-se a capacidade de realizar tarefas de forma independente, ao seguinte confere a capacidade de desempenhá-las com a ajuda de adultos ou de parceiros mais preparados, “através do diálogo, da colaboração, da imitação, da experiência compartilhada, e das pistas que lhes são fornecidas”¹. Neste sentido, a teoria vygotskyana atribui muita importância ao papel do mediador – exemplo o professor – como agente impulsionador do desenvolvimento psíquico humano.
Para Vygotsky não é admissível a construção do aprendizado na ausência do outro, seu semelhante. Pois para ele, nessa situação o homem não se constituiria homem, isentando-se das suas características essenciais. Não é possível que uma criança desenvolva suas habilidades cognitivas sem o convívio com quem já as possui, visto que todo e qualquer conhecimento é necessariamente mediado. Dessa forma, o ensino e aprendizagem em Vygotsky deve se antecipar ao que o aluno ainda não conhece, pois a intervenção pedagógica estabelece avanços e estimula a criança a atingir um nível de compreensão e habilidade que a possibilite desempenhar sozinha, ou seja, cabe ao mediador ajudar a criança a ampliar seu desenvolvimento potencial transformando-o em real.
De acordo com Martha Kohl de Oliveira:
O professor tem o papel explícito de interferir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos, provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente. O único bom ensino, afirma Vygotsky, é aquele que se adianta ao desenvolvimento. Os procedimentos regulares que ocorrem na escola – demonstração, assistência, fornecimento de pistas, instruções – são fundamentais na promoção do “bom ensino”. Isto é, a criança não tem condições de percorrer, sozinha, o caminho do aprendizado. A interação de outras pessoas – que, no caso específico da escola, são o professor e as demais crianças – é fundamental para promoção do desenvolvimento do indivíduo. ²
Outra maneira de apropriação do conhecimento oriundo do meio social, segundo Vygotsky é a imitação que para ele não é uma mera cópia do que foi observado no outro, mas uma reconstrução individual do observador, que desenvolve para si algo novo a partir do que viu.
Vygotsky não toma a atividade imitativa, portanto, como um processo mecânico, mas sim como uma oportunidade de a criança realizar ações que estão alem de suas próprias capacidades, o que contribuiria para seu desenvolvimento. ³
Apesar de considerar a interação do meio na formação individual, Vygotsky não desconsidera as definições biológicas da espécie humana, mas afirma que estas são sobrepostas ao convívio com o meio, por exemplo, uma criança jamais aprenderá a escrever, apesar de ter habilidades para tal, se estiver no convívio de uma sociedade que não usa os signos para se comunicar. Entretanto, ao mudar para um ambiente onde as pessoas usem destes para manterem contato, possivelmente a mesma irá desenvolver a prática da escrita, que será viabilizada junto um agente que proporcione o desenvolvimento de tal destreza.
É fundamental para a educação a idéia de que os processos de aquisição do conhecimento movimentam os processos de ampliação do universo mental. O caminho deste desenvolvimento humano é proporcionado “de fora para dentro”, por meio da internalização de processos externos ao indivíduo, produzidos no seu meio. Pode-se observar que o papel da escola é a de agente social que promove o aprendizado das crianças e jovens das “sociedades letradas”, cuja função essencial é a promoção do desenvolvimento psicológico dos indivíduos e consequentemente a permanência das tradições sociais.
Nesse sentido foi interessante a retomada das ideias de Vygotsky que tem particular relevância para a educação. Ao defender a perspectiva sócio-histórica, ele inclui o indivíduo no meio, e afirma que este não pode ser estudado como ser a-histórico, visto que a história permite o melhor entendimento da sociedade em que vive. Diante do exposto, pode-se retornar à temática clichê nas discussões sobre educação: qual seria o real papel do professor em exercício? E o que se deve pensar ao analisar um aluno enquanto receptor de informações, vítima e algoz do seu meio?
NOTAS
¹REGO, 1995 - Pág. 73.
²OLIVEIRA, 1997 - Pág. 62.
³OLIVEIRA, 1997 - Pág. 63.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
· OLIVEIRA, Martha Kohl de. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento: Um processo sócio-histórico. Editora Scipione, 1997.
· REGO, Tereza C. – Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Editora Vozes, 1995.
· FERRARI, Márcio - Lev Vygotsky - O teórico do ensino como processo social. Disponível na internet em http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/lev-vygotsky-teorico-423354.shtml - Acessado na data: 22.09.2010.