terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Qual a importância da mediação no processo de aprendizagem?

Por Jamile Serra Coutinho e Vinicius Oliveira
Na concepção de Vygotsky, o processo de aprendizagem humano é desenvolvido através da interação com o ambiente no qual ele está inserido. Trata-se de uma relação dialética, na qual o homem modifica o meio, e este o modifica. Para desenvolver a sua tese este pesquisador estabeleceu dois conceitos: zona de desenvolvimento real e zona de desenvolvimento proximal. Ao primeiro denomina-se a capacidade de realizar tarefas de forma independente, ao seguinte confere a capacidade de desempenhá-las com a ajuda de adultos ou de parceiros mais preparados, “através do diálogo, da colaboração, da imitação, da experiência compartilhada, e das pistas que lhes são fornecidas”¹. Neste sentido, a teoria vygotskyana atribui muita importância ao papel do mediador – exemplo o professor – como agente impulsionador do desenvolvimento psíquico humano.
            Para Vygotsky não é admissível a construção do aprendizado na ausência do outro, seu semelhante. Pois para ele, nessa situação o homem não se constituiria homem, isentando-se das suas características essenciais. Não é possível que uma criança desenvolva suas habilidades cognitivas sem o convívio com quem já as possui, visto que todo e qualquer conhecimento é necessariamente mediado. Dessa forma, o ensino e aprendizagem em Vygotsky deve se antecipar ao que o aluno ainda não conhece, pois a intervenção pedagógica estabelece avanços e estimula a criança a atingir um nível de compreensão e habilidade que a possibilite desempenhar sozinha, ou seja, cabe ao mediador ajudar a criança a ampliar seu desenvolvimento potencial transformando-o em real.
            De acordo com Martha Kohl de Oliveira:
O professor tem o papel explícito de interferir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos, provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente. O único bom ensino, afirma Vygotsky, é aquele que se adianta ao desenvolvimento. Os procedimentos regulares que ocorrem na escola – demonstração, assistência, fornecimento de pistas, instruções – são fundamentais na promoção do “bom ensino”. Isto é, a criança não tem condições de percorrer, sozinha, o caminho do aprendizado. A interação de outras pessoas – que, no caso específico da escola, são o professor e as demais crianças – é fundamental para promoção do desenvolvimento do indivíduo. ²
            Outra maneira de apropriação do conhecimento oriundo do meio social, segundo Vygotsky é a imitação que para ele não é uma mera cópia do que foi observado no outro, mas uma reconstrução individual do observador, que desenvolve para si algo novo a partir do que viu.
Vygotsky não toma a atividade imitativa, portanto, como um processo mecânico, mas sim como uma oportunidade de a criança realizar ações que estão alem de suas próprias capacidades, o que contribuiria para seu desenvolvimento. ³
            Apesar de considerar a interação do meio na formação individual, Vygotsky não desconsidera as definições biológicas da espécie humana, mas afirma que estas são sobrepostas ao convívio com o meio, por exemplo, uma criança jamais aprenderá a escrever, apesar de ter habilidades para tal, se estiver no convívio de uma sociedade que não usa os signos para se comunicar. Entretanto, ao mudar para um ambiente onde as pessoas usem destes para manterem contato, possivelmente a mesma irá desenvolver a prática da escrita, que será viabilizada junto um agente que proporcione o desenvolvimento de tal destreza.
            É fundamental para a educação a idéia de que os processos de aquisição do conhecimento movimentam os processos de ampliação do universo mental. O caminho deste desenvolvimento humano é proporcionado “de fora para dentro”, por meio da internalização de processos externos ao indivíduo, produzidos no seu meio. Pode-se observar que o papel da escola é a de agente social que promove o aprendizado das crianças e jovens das “sociedades letradas”, cuja função essencial é a promoção do desenvolvimento psicológico dos indivíduos e consequentemente a permanência das tradições sociais.
 Nesse sentido foi interessante a retomada das ideias de Vygotsky que tem particular relevância para a educação. Ao defender a perspectiva sócio-histórica, ele inclui o indivíduo no meio, e afirma que este não pode ser estudado como ser a-histórico, visto que a história permite o melhor entendimento da sociedade em que vive. Diante do exposto, pode-se retornar à temática clichê nas discussões sobre educação: qual seria o real papel do professor em exercício? E o que se deve pensar ao analisar um aluno enquanto receptor de informações, vítima e algoz do seu meio?



NOTAS
¹REGO, 1995 - Pág. 73.
²OLIVEIRA, 1997 - Pág. 62.
³OLIVEIRA, 1997 - Pág. 63.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
·         OLIVEIRA, Martha Kohl de. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento: Um processo sócio-histórico. Editora Scipione, 1997.
·         REGO, Tereza C. – Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Editora Vozes, 1995.
·         FERRARI, Márcio - Lev Vygotsky - O teórico do ensino como processo social. Disponível na internet em http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/lev-vygotsky-teorico-423354.shtml - Acessado na data: 22.09.2010.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Resenha do Livro - Âncoras de Tradição - Por Jamile Coutinho e Vinicius Oliveira

Introdução

   Na ascensão de Vargas ao poder da nação brasileira, a sociedade baiana toma um rumo em defesa de seus interesses políticos e econômicos. O historiador Paulo Santos Silva retrata em seu livro “Âncoras de tradição: luta política, intelectuais e construção do discurso histórico na Bahia (1930-1949)”, uma análise da historiografia baiana baseada nos conflitos de interesse políticos da ameaçada elite local. O livro destina-se à comunidade de estudos da escrita histórica baiana. O autor possui um alto grau de conhecimento no assunto quando analisado que suas últimas obras possuem o mesmo foco de caráter político seja ele nacional ou regional.
   Segundo Silva, a intelectualidade baiana na década de 1930 estava voltada para a vida política. Diante do contexto nacional, havia a necessidade de ênfase nesse tema, visto que eram as vontades da oligarquia local que estavam sendo defendidas. O interesse primordial da elite era que se mantivesse a forma de governo vigente, a oligarquia rural, esta estava sendo duramente atacada pelo governo Vargas, que não queria que a Bahia tivesse autonomia política. Para a defesa de tais interesses, criou-se a Concentração Autonomista da Bahia, que tinha como chapa: “A Bahia ainda é a Bahia”. Este movimento autonomista tinha como objetivo a crítica e oposição ao “estado varguista”.
   As fontes que respaldam o argumento do autor são jornais e revistas da época, assim como outros periódicos surgidos posteriormente, mas que trazem informações sobre o período que viabilizam a reconstituição das atividades políticas e intelectuais dos liberais baianos na figura da elite regional. Podemos citar como exemplo as revistas da sociedade intelectual da época, como: A Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (RIGHB) e a Revista da Academia de Letras da Bahia (RALB).
   Como cita o autor, os jornais foram empregados como fontes para a reconstituição factual e como local de observação onde se constata a atuante presença dos intelectuais do período. É válida a ressalva que os jornais utilizados como bibliografia eram instrumentos de difusão política, o que deixa as suas informações com caráter de parcialidade informativa, visto que suas contribuições para a obra devem ser rigorosamente analisadas para que se possa discernir o conteúdo apresentado, para não cometer a decidia de uma leitura partidária.
   De acordo com o autor, a historiografia baiana correspondente ao período é débil, por esse motivo, o livro não passa de uma breve análise da sociedade local. Essa apreciação divide-se em três partes: na primeira parte há uma reconstituição do cenário político baiano na década de 1930, e como os grupos dirigentes locais se posicionaram diante disso; na segunda parte, o autor constrói um painel intelectual da época, as escolas, tanto de nível médio, quanto superior, de formação dos seus membros, e as influências destas em toda a história; a terceira parte trata sobre o mesmo tema da primeira, mas sob o ângulo da produção intelectual. O autor mostra como esta produção interferiu no processo político, e como a resistência à hegemonia nacional teve duas vertentes, a militância político-partidária e a produção intelectual historiográfica.

Primeira parte

    Nesta etapa do livro, o autor focaliza seus estudos na estruturação das organizações partidárias no cenário político baiano contra os ideais nacionalistas de Getúlio Vargas. Esta comoção de caráter regionalista é motivada pela inquietude da elite local que teve seus privilégios ameaçados frente à decisão de Vargas em instaurar a política de interventores nos estados brasileiros. Para a Bahia nomeou-se Juraci Magalhães, o ideal desta política, era manter a Bahia sobre constante controle do Estado. Em seu discurso de posse, Juraci afirma:
“(...) que a acolhida que lhe davam na Bahia significava a derrota dos interesses regionalistas e a vitória do sentimento de unidade nacional. Proclamação que procurava não reconhecer a força dos grupos locais e que registrava, por antecipação, uma vitória da nacionalidade sobre a regionalidade.” (p.29)
   Como frente de oposição cria-se a Concentração Autonomista da Bahia. Neste agrupamento, desenvolvem-se alianças políticas entre grupos da elite baiana, que ate então eram rivais, para defender os costumes da tradição política local. O autonomismo baiano detinha como seus defensores  personalidades da política regional: J.J. Seabra, Otávio Mangabeira, João Mangabeira, Nestor Duarte, assim como outros intelectuais politizados. Ao se referir à organização do texto, e o sentido que ele visa apresentar, o autor encontra uma dificuldade que qualquer historiador dedicado a analise dos trâmites políticos se depara, exemplo disso é o retorno excessivo de informações para reconhecimento dos políticos a cada partido ou ideologia que compartilhem.

Segunda Parte

   Nesta passagem do livro, o autor busca demonstrar o caminho percorrido para a formação intelectual politizada, onde os jovens principiantes nesta área tinham poucas opções para começar tal carreira. A Faculdade de Medicina e a Faculdade de Direito eram as principais formadoras de opinião para esses que iniciavam sua jornada rumo à camada dirigente da nação. Com essas instituições, o aluno era enriquecido não só com informações especificas, mas também obtinha conhecimento nas áreas das humanidades e letras, o que favorecia o seu poder de análise crítica diante de diversos temas.  Tais atribuições favoreciam sua melhor qualificação para adentrar ao meio político.
    Aos recém-saídos da comunidade acadêmica era certa a sua entrada no campo jornalístico, para que assim eles pudessem não só demonstrar suas produções intelectuais, assim como iniciar seus contatos políticos. Como comprova o autor:
“Para garantir a subsistência, os intelectuais das décadas iniciais do século XX abrigavam-se no serviço publico, no magistério publico e privado e nas profissões liberais, notadamente médicas e jurídicas, traço que caracterizou o conjunto da vida intelectual do país no período.” (p. 88)
     Para a promoção da sociedade intelectual foram formadas três grandes instituições de estudos aplicados a valorização do estado baiano, podemos citar a Faculdade Livre de Direito da Bahia a qual deu sustentação jurídica a oposição a Vargas;  havia também o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, que se detinha, como cita o autor, na figura da “fábrica da memória local”; e a Academia de Letras da Bahia responsável pelas produções literárias e artísticas de punho critico ao Estado varguista.

Terceira parte

   Trata-se das obras intelectuais dos “grandes homens” baianos. Esses livros marcam a historiografia baiana, descrevendo as resistências ao Estado Novo, através deles depreende-se o sentimento nacionalista que tomava conta da Bahia.
   Observa-se o caráter positivista desta historiografia em diversos aspectos como diz o autor:
“(...) na noção de documentos (escritos de preferência), na narrativa (baseada na sucessão dos acontecimentos), no critério de estabelecimento dos marcos cronológicos (sempre os fatos políticos como referência). Mas o que efetivamente a singulariza (...) é a ausência de problematização, seja quanto as fontes, seja quanto aos temas.”
   As biografias das grandes personalidades políticas baianas que se destacavam no cenário brasileiro eram utilizadas para ressaltar o valor histórico da Bahia, na idéia de se fazer menção aos feitos políticos de cada um desses personagens, era descartado a sua vida pessoal e vangloriado sua participação social. O importante era mencionar o que este homem público contribuiu para a sociedade e reafirmar as suas origens como objeto de orgulho para as demais figuras públicas.
   Há que se destacar também a tentativa de “mudança” do passado, no que diz respeito à época de escravidão na Bahia. Estes autores, afirmavam em seus textos que foi uma convivência pacífica, e que a culpa da má sorte dos africanos era por causa dos traficantes, e não de quem os comprava. Tentavam modificar isso, para não denegrir a imagem baiana diante do cenário político.


Conclusão

   Uma grande observação a ser mencionada é a de que o autor consegue realizar com sucesso o seu principal objetivo, a análise da historiografia baiana no período de 1930-1949. Apesar das contradições da narrativa política, que é uma debilidade que afeta a qualquer texto que se pré-disponha a abordar este tema, o historiador baiano sinaliza muito bem as coligações partidárias e seus interesses. O que é o fator principal para uma interpretação mais clara dos trâmites sejam eles do legislativo ou do executivo na época citada. Para caráter avaliativo, o texto é um perfeito exemplo de como a história pode ser utilizada para proveitos particulares de grupos dominantes.

O mundo carolíngio - A gestação do feudalismo

No período destacado pela autora, Sônia Regina Mendonça, na obra “O mundo Carolíngio”, acompanha-se a construção do sistema feudal desde a decadência do império romano (476 d.C.) e sua gestação no império de Carlos Magno. A falta de fontes regulares de escravos levou a regionalização da economia romana, como forma de racionalizar os estoques de mão-de-obra, os transportes.
Destacam-se neste período da derrocada romana, as invasões bárbaras que motivaram nos centros urbanos a evasão da população.
“A economia ruralizava-se. Ao lado da extensão dos baldios, da redução dos cultivos e do declínio da população, o próprio latifúndio se redefinia. A grande propriedade, por um lado, ampliava a sua extensão às custas dos lotes vizinhos; por outro, absorvia novo tipo de trabalhador, o camponês dependente ou colono. Em seu conjunto ela voltava-se cada vez mais para o auto-consumo.” (Pág. 9).

É válido ressaltar, que o sistema Feudal não surge de forma instantânea no cenário medieval, provém de um lento processo de transformações que ocorreram desde a decadência do Império Romano. Por volta do século V, a Gália foi unificada por Clovis, o que se pode chamar de primeiro estado bárbaro do ocidente cristianizado.
A estrutura deste novo reino se mantinha nos alicerces bárbaros, o poder público e o serviço privado do rei, explicitado por MENDONÇA: “[...] Já o reino, enquanto bem privado do soberano, podia ser disposto por ele segundo a sua vontade, [...].”
Com falecimento do Rei Clóvis, Império Merovíngio, houve a desestruturação do território, fora dividido pelos descendentes em quatro reinos.
Surge no século VIII à ascensão do reino da Austrasia, tal localidade impôs uma nova dinastia, que representada na figura de Carlos Magno inicia o Império Carolíngio. Tal era originaria os fundamentos para a consolidação do sistema feudal. Os Carolíngios impulsionados a centralizar o poder na Europa. Nesta busca pela centralização do império, teve como método a regionalização do poder, adotou-se então a política de vassalagem. Acordo em que o rei, caracterizado na figura de soberano administrava uma rede de vassalos dotados de poderes em suas localidades, normalmente tal benefício era proveniente da posse de terras.
Ao analisar este modelo político podemos chegar ao seguinte consenso: para tal dimensão territorial (Europa) foi necessário descentralizar o poder unificado, em frações territoriais lideradas por vassalos diretos do suserano (rei).
Esta prática viabilizou a esses poderes locais, uma autonomia imprópria para aquilo que o Império Carolíngio “centralizado” havia planejado. Esses “chefes” locais, senhores, conquistaram uma camada de vassalos submissos às posses de terra concedidas diretamente pelo rei. Tal controle de território regional favoreceu a uma fragmentação do império idealizado por Carlos Magno.
No modelo de império, de poder regionalizado, a camada trabalhadora se fundiu em termos jurídicos. Camponeses livres e escravos tornaram-se uma só classe, os servos. Esta homogeneização é proveniente de uma debilidade na mão-de-obra, em que a opção para o trabalho agrícola passou a ser o refúgio necessário, a situação precária (pestes e fome) em larga escala que vinha sofrendo o continente europeu. Assim como, tal fusão beneficiava em meios administrativos o estabelecimento da política de soberania e vassalagem ao cobrar os tributos da massa servil.
Um fragmento do texto de Sonia Regina de Mendonça que comprova tais argumentos:
“O deterioramento da condição social do homem livre e o abrandamento da do escravo levaram à fusão desses grupos numa só categoria de dependentes, cuja heterogeneidade jurídica anulava-se diante dos imperativos de uma vida material uniforme. O próprio termo colonus desapareceu dos textos do século IX, substituído pelo uso vulgarizado da palavra servus.” (Pág. 46).

A obra política de Carlos Magno, não se deteve apenas à reestruturação do Estado (analisado anteriormente). Ela também se estendeu à Igreja, resultando numa herança cultural que ultrapassaria a curta duração do império “unificado” (771-843). Procurando transformar a fé no alicerce de coesão de seu vasto território, o soberano preocupou-se em restaurar a hierarquia da Igreja, regulamentar os seus bens e reforçar seu papel cultural.
Ao se fazer um balanço das contribuições no ponto vista político, os carolíngios contribuíram a “perpetuação do príncipe monárquico”, segundo MENDONÇA, Além de inserir a “sagração” (tornar divino) como fundamento do poder real. Tal herança perdurou, como a própria autora cita, até a Revolução Francesa. No aspecto administrativo visando um sistema padrão, o período carolíngio acrescentou essencialmente por ter servido de marco para o início da história do feudalismo ocidental.

domingo, 18 de outubro de 2009

RESUMO: AS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES - JAIME PINSKY

POR MABEL FREITAS, IRENILDA COUTINHO E VINICIUS OLIVEIRA

O Historiador Jaime Pinsky em seu livro, “As primeiras civilizações”, desenvolve as suas análises de desenvolvimento do homem pré-histórico para o homem atualmente conhecido como civilizado, se baseando de forma análoga ao atual comportamento humano. Segundo o autor a concepção de evolução do que hoje chamamos de homo sapiens é atribuída aos materiais que o mesmo desenvolve na sua cadeia evolutiva ao longo da história, para que com esses instrumentos se tenha análise completa do cotidiano na época datada. A estrutura social também é investigada, na divisão de tarefas do trabalho de subsistência da época assim como suas atribuições para cada sexo. A hierarquização da estrutura político-social é outra análise feita pelo autor ao longo do seu livro.

As descobertas de fósseis não seguem a ordem de um roteiro preestabelecido, nem a vontade dos pesquisadores, para tal os arqueólogos necessitam se localizar em regiões de proximidades com outros recém achados arqueológicos. Nesta concepção o autor revela a dificuldade de se manter uma linha cronológica coerente das descobertas, pois a cada instante pode está se descobrindo novos artefatos que venham a invalidar aquele que foi catalogado como anterior aos demais em outro momento.

Demonstra, o historiador, uma grande preocupação com relação à como as lacunas da história muitas vezes são preenchidas de forma arbitrária por cientistas a partir de especulações muitas vezes infundadas ou pouco prováveis, conseqüências que surgem devido à implantação da idéia de que a ciência pode responder a todas as questões, concepção no século XIX. Por isso muitas vezes pode haver distorções de teorias supostas anteriormente a partir de uma interpretação errônea. Como exemplo, o livro traz as contradições feitas ao redor da “seleção natural” proposta por Darwin.

Outra preocupação do historiador, Pinsky, é a de não impor aos ancestrais, a pessoas que viveram em época muito distinta da atual realidade, valores, padrões de comportamento e vontades que são do recente conceito de civilização. O que o autor quer deixar de forma clara é que deve se analisar o homem evoluído do homem estereotipado como primata, o meio em que cada um convive e as dificuldades que cada um enfrenta. Ao notar o exemplo de instrumentos rudimentares e as altas tecnologias que o ser humano dispõe hoje, assim como a expansão geográfica do homem, conclui-se que foi necessário a atitude de aventurar-se e ousar para dar certo nível no processo de evolução da humanidade.

A idéia de “seres primatas” corresponde a uma organização social incipiente, um sistema de crenças baseado em superstições infantis, e uma arte ingênua, o tempo todo tomado pela preocupação angustiante da sobrevivência. A partir de este parecer o livro nos encaminha ao questionamento sobre a inquietude humana e seus conceitos de valores. É notável que o homem vá à busca cada vez mais da riqueza técnica e do progresso material, afinal o que o homem busca na verdade com todo este avanço, é nesse ponto que o autor se baseia na construção da obra.

O homem na sua estrutura social e em seu mecanismo de sobrevivência divide as tarefas de seu cotidiano “primata” entre os sexos, onde a mulher fica responsável pela coleta (cereais e ervas que mais tarde se desenvolve para a atividade agrícola), e o homem pela caça. Tal divisão de deveres deixa até hoje como relata o autor, qual seria o grau de importância que supostamente o homem tem perante a mulher, ao responder esta questão, ele revela que esta suposição é meramente estabelecida pelo poder físico do homem que vem a ser maior do que o da mulher e do fator mítico da hegemonia masculina.

A revolução agrícola proporcionou a locomoção dos homens na época, para que assim eles pudessem aumentar a sua área de cultivo e saciar todo o ciclo de subsistência do seu grupo, nas suas diversas subdivisões de trabalho. Com o advento da agricultura, os grupos podiam ser maiores desde que dentro de limites estabelecidos pela fertilidade do solo, quantidade de terra disponível e estrutura organizacional da tribo. Este processo intenso de subdivisões e deslocamentos provocou uma onda de difusão da agricultura e a atividade pastoril, buscando o estoque dos mantimentos para a manutenção alimentícia da população.

A passagem da atividade coletora para a agrícola deu-se de uma maneira brusca ou através de magia, é uma forma errada de se pensar sobre esse assunto, segundo o autor. Esta transformação ocorreu através de um longo processo que incluiu cuidadosa percepção dos fenômenos naturais, elaboração de teoria causa/efeito e doses de acidentalidade, como explica Jaime Pinsky. Ao desenrolar deste processo, a economia simples de produção de alimentos provocou grande transformação nos grupos primitivos, possibilitando as primeiras estocagens.

Na criação das cidades, o homem se torna realmente sedentário. Surge ai então a hierarquização da sociedade, formando a chamada pirâmide social, onde se estabelece um poder político. Para defesa de seus argumentos o autor utiliza as implicações da formação das cidades no cotidiano da época, que de maneira muito interessante reflete até hoje na realidade do século XXI:

“Uma civilização, via de regra, implica uma organização política formal com regras estabelecidas para governantes e governados (mesmo que autoritários e injustos); implica projetos amplos que demandem trabalho conjunto e administração centralizada (como canais de irrigação, grandes templos, pirâmides , portos, etc.); implica a incorporação das crenças por uma religião vinculada ao poder central, direta ou indiretamente (os sacerdotes egípcios, o templo de Jerusalém, etc.); implica uma produção artística que tenha sobrevivido ao tempo e ainda nos encante (o passado não existe em si, senão pelo fato de nós o reconstruirmos); implica a criação ou incorporação de um sistema de escrita (os incas não preenchem esse quesito, e nem por isso deixam de ser civilizados); implica finalmente, mas não por último a criação das cidades.”

Observando este trecho supracitado, pode se concluir que a formação de uma estrutura de ordem civil não depende somente das edificações de uma cidade, mas também é formada por uma conjectura política, religiosa e lingüística.

Jaime Pinsky dirige o seu livro nos últimos capítulos para as especificidades das mais famosas civilizações antigas, Mesopotâmia, os Egípcios e os Hebreus. Ao descrever a Mesopotâmia o historiador, fala sobre o poder da religião sobre esta civilização, e como tal religiosidade, na configuração do sacerdote, mantém o controle de sua população, por base do confisco de objetos e animais além de forçar seus submissos a trabalhos não remunerados.

Não é de se acreditar que quando posto um rei nesta civilização, ele tenha rompido com a religião. Pelo contrário ele passa a atuar junto com ela. Viabiliza dinheiro para construir ou decorar templos, fornece matéria-prima e às vezes até mão-de-obra. Em troca, busca a legitimação de seu poder que surgido dos homens vai se tornando divino, fórmula que mais a frente se tornaria um “clichê” político de quaisquer líderes de estado.

Para o avanço da escrita e da documentação de importantes assuntos, foi necessária na época a criação de uma linguagem baseada na simbologia. As atribuições de uma nova linguagem não deteriam somente a escrita e sim a um sistema de medidas para facilitar as leituras de dimensões e volumes. O cuneiforme mesopotâmico: originalmente pictográficos, o cuneiformes evoluíram para ideogramas e eventualmente, para escrita silábica.

A criação de códigos onde se pregava a jurisprudência, como o código de Hamurábi, revela segundo o autor, o início de uma formação jurídica no estado. Mas tais leis como a citada por Hamurábi, pregavam a punição criminal, assim como se evidenciava o conceito de propriedade privada e pública, e também na área da família, onde demonstra o direito e dever do homem e da mulher.

Ao descrever os egípcios o autor relata que esta civilização começou a ser montada com trabalho organizado a partir de condições geográficas favoráveis. A comunidade de camponeses (felás) era submissa aos mandos e desmandos dos sacerdotes que representavam as palavras do faraó. Os felás eram responsáveis pela produção agrícola, pela mão-de-obra nas construções, o mecanismo utilizado para sua submissão ao faraó era a visão divina que se tinha desse chefe de estado, que não só representava o Egito na política, mas também como na força militar e na religiosidade (sendo igualado a um verdadeiro Deus).

Uma das principais características da civilização do Nilo eram as suas edificações, muitas até hoje levantam questionamentos sobre o seu processo de construção, devido a falta de tecnologia necessária para tais obras. Estes monumentos da antiguidade eram erguidos muitas vezes para servir de tumba para os faraós no momento de seu falecimento, idealizava-se também que tais construções ostentariam o império egípcio, expulsando de certa forma os seus inimigos. Tal grandiosidade nas edificações desafiava desde aquela época as forças da natureza, a exemplo da construção de barragens, que até hoje é utilizada na construção civil.

A cultura hebraica se desenvolveu no primeiro milênio a.C., localizava-se na mesopotâmia. Pinsky ao longo do capitulo tenta deixar claro que mesmo com muitas passagens bíblicas que narram a vida da sociedade hebraica não existem evidências que os acontecimentos tenham a veracidade.

Acredita-se que o povo hebreu inicia-se a partir do momento em que se instalam na região de Jericó. Com o tempo acontece a transição da sociedade sem poder central para uma monarquia centralizada.

Davi, rei muito conhecido pelo seu carisma e por ser um ótimo combatente, assumiu o trono, mandou construir um palácio, mas, percebeu que faltava o prestigio religioso, logo viu chance de se apoiar em Iavé, o deus dos hebreus. Depois seu filho Salomão, assumiu seu trono e conquistou muitas terras a partir de casamentos onde os dotes eram territórios, porém, perdeu prestígio de seus súditos quando se viu obrigado a cobrar impostos, coube a ele construir o templo de Jerusalém, para tentar unificar o povo hebreu.

Apesar dos esforços de Salomão para manter a unificação do povo hebreu, Israel é destruída e assim as tribos hebraicas passaram a aderir a outras culturas e Iavé perdeu o prestígio, meio século depois o reino de Javé e reconstruído e o templo de Jerusalém reerguido e povo hebraico pode enfim ter sua identidade cultural restabelecida.

CONCLUSÃO

A todo momento na descrição dos seus capítulos Jaime Pinsky , tenta retratar com definições muito claras a ordem dos acontecimentos. O que quase todo historiador tenta fazer é a recomposição dos fatos para que haja uma coerência, pois se estamos aqui de modo tão evoluído é porque alguém antes deste atual conceito de civilização se viu obrigado a mudar as estratégias para que pudesse sobreviver.

Ao fazer a leitura deste livro pode-se executar um olhar crítico para a evolução da humanidade, e entender que não passamos por uma seleção natural, mas sim por uma adequação à natureza, aprendendo a dominá-la e desenvolvendo habilidades a partir da observação. Uma ilustração para isso foi a necessidade de dominar o fogo para inibir seus predadores e cozinhar seus alimentos, outro exemplo seria a agricultura que substituiu o ato da coleta, e a criação que substitui a caça, e essas sim fizeram com que a partir daí o homem tenha se sedentarizado. O homem ligado a terra pode dividir tarefas, criar o ato do trabalho coletivo e mais tarde organizar-se em uma sociedade urbana com classes sociais e deuses que em muitos lugares explicavam o poder que muitos monarcas detêm.

Desta forma a sociedade que vivemos hoje de forma tão hierarquizadas, mestiça e desigual, mas também com traços políticos desenvolvidos, e economia com grande amplitude, surgiu através da necessidade que o homem possui de organização. Afinal as invenções nascem conforme sua precisão.

PALAVRA-CHAVE: civilização, humanidade, evolução, formação, organização social.