quinta-feira, 6 de maio de 2010

O mundo carolíngio - A gestação do feudalismo

No período destacado pela autora, Sônia Regina Mendonça, na obra “O mundo Carolíngio”, acompanha-se a construção do sistema feudal desde a decadência do império romano (476 d.C.) e sua gestação no império de Carlos Magno. A falta de fontes regulares de escravos levou a regionalização da economia romana, como forma de racionalizar os estoques de mão-de-obra, os transportes.
Destacam-se neste período da derrocada romana, as invasões bárbaras que motivaram nos centros urbanos a evasão da população.
“A economia ruralizava-se. Ao lado da extensão dos baldios, da redução dos cultivos e do declínio da população, o próprio latifúndio se redefinia. A grande propriedade, por um lado, ampliava a sua extensão às custas dos lotes vizinhos; por outro, absorvia novo tipo de trabalhador, o camponês dependente ou colono. Em seu conjunto ela voltava-se cada vez mais para o auto-consumo.” (Pág. 9).

É válido ressaltar, que o sistema Feudal não surge de forma instantânea no cenário medieval, provém de um lento processo de transformações que ocorreram desde a decadência do Império Romano. Por volta do século V, a Gália foi unificada por Clovis, o que se pode chamar de primeiro estado bárbaro do ocidente cristianizado.
A estrutura deste novo reino se mantinha nos alicerces bárbaros, o poder público e o serviço privado do rei, explicitado por MENDONÇA: “[...] Já o reino, enquanto bem privado do soberano, podia ser disposto por ele segundo a sua vontade, [...].”
Com falecimento do Rei Clóvis, Império Merovíngio, houve a desestruturação do território, fora dividido pelos descendentes em quatro reinos.
Surge no século VIII à ascensão do reino da Austrasia, tal localidade impôs uma nova dinastia, que representada na figura de Carlos Magno inicia o Império Carolíngio. Tal era originaria os fundamentos para a consolidação do sistema feudal. Os Carolíngios impulsionados a centralizar o poder na Europa. Nesta busca pela centralização do império, teve como método a regionalização do poder, adotou-se então a política de vassalagem. Acordo em que o rei, caracterizado na figura de soberano administrava uma rede de vassalos dotados de poderes em suas localidades, normalmente tal benefício era proveniente da posse de terras.
Ao analisar este modelo político podemos chegar ao seguinte consenso: para tal dimensão territorial (Europa) foi necessário descentralizar o poder unificado, em frações territoriais lideradas por vassalos diretos do suserano (rei).
Esta prática viabilizou a esses poderes locais, uma autonomia imprópria para aquilo que o Império Carolíngio “centralizado” havia planejado. Esses “chefes” locais, senhores, conquistaram uma camada de vassalos submissos às posses de terra concedidas diretamente pelo rei. Tal controle de território regional favoreceu a uma fragmentação do império idealizado por Carlos Magno.
No modelo de império, de poder regionalizado, a camada trabalhadora se fundiu em termos jurídicos. Camponeses livres e escravos tornaram-se uma só classe, os servos. Esta homogeneização é proveniente de uma debilidade na mão-de-obra, em que a opção para o trabalho agrícola passou a ser o refúgio necessário, a situação precária (pestes e fome) em larga escala que vinha sofrendo o continente europeu. Assim como, tal fusão beneficiava em meios administrativos o estabelecimento da política de soberania e vassalagem ao cobrar os tributos da massa servil.
Um fragmento do texto de Sonia Regina de Mendonça que comprova tais argumentos:
“O deterioramento da condição social do homem livre e o abrandamento da do escravo levaram à fusão desses grupos numa só categoria de dependentes, cuja heterogeneidade jurídica anulava-se diante dos imperativos de uma vida material uniforme. O próprio termo colonus desapareceu dos textos do século IX, substituído pelo uso vulgarizado da palavra servus.” (Pág. 46).

A obra política de Carlos Magno, não se deteve apenas à reestruturação do Estado (analisado anteriormente). Ela também se estendeu à Igreja, resultando numa herança cultural que ultrapassaria a curta duração do império “unificado” (771-843). Procurando transformar a fé no alicerce de coesão de seu vasto território, o soberano preocupou-se em restaurar a hierarquia da Igreja, regulamentar os seus bens e reforçar seu papel cultural.
Ao se fazer um balanço das contribuições no ponto vista político, os carolíngios contribuíram a “perpetuação do príncipe monárquico”, segundo MENDONÇA, Além de inserir a “sagração” (tornar divino) como fundamento do poder real. Tal herança perdurou, como a própria autora cita, até a Revolução Francesa. No aspecto administrativo visando um sistema padrão, o período carolíngio acrescentou essencialmente por ter servido de marco para o início da história do feudalismo ocidental.

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